O que é e o que não é Psicanálise?

A Psicanálise não é terapia ou psicoterapia, é um método investigativo. Busca compreender os sentimentos, ações e reações, assim como a explicação e interpretação daquele conteúdo de traz sofrimento. Sendo assim, não trabalha com os sintomas, mas com sua causa. Não entra em contexto de cura, mas do alívio desses sintomas, a partir do conhecimento da causa. Procura tornar consciente o que está inconsciente, para que esse conteúdo seja ressignificado. Psicanálise não é orientação. Não trabalha com hipnose, mas com a livre associação de ideias. Sua proposta está voltada para o autoconhecimento.

domingo, 2 de junho de 2024

Freud e sua eterna colaboração: o inconsciente não saiu de moda




Para compreender a Psicanálise é preciso ter em mente de que além de um método de investigação, método psicoterápico ou um conjunto de teorias psicanalíticas e psicopatológicas, inegavelmente ela é parte da história da humanidade.

Essa percepção vem do fato de seu surgimento se dar em um contexto de revoluções e duas grandes guerras, marcados por feridas psíquicas, que embora não fossem totalmente conhecidas, tiveram um olhar psicanalítico.
Embora seu surgimento não esteja diretamente relacionado às guerras, revoluções e conflitos da época, os estudos psicanalíticos foram de grande auxílio para os tratamentos no pós guerra.

As contribuições de Freud

Freud, considerado o pai da Psicanálise, abriu caminho para outros estudiosos/pesquisadores e suas novas teorias acerca dos tratamentos voltados para as psicopatologias em adultos e crianças, e, ainda que contestado muitas vezes, por pessoas sem o conhecimento aprofundado em seus estudos, um conceito ainda se mantém vivo: o inconsciente.

Mais de 80 anos após sua morte, é indiscutível as contribuições do estudo do inconsciente para a compreensão de inúmeras doenças psíquicas.

Desafios para a Psicanálise

Sabemos que a Psicanálise vem perdendo campo ao passar dos anos, com o surgimento da Psicologia como sendo a principal área de estudo do comportamento humano, dentro das questões patológicas.

A Psicanálise vem sendo alvo de críticas, com o objetivo de ser deixada de lado por quem não compreende que a estruturação da Psicologia se deu devido ao fato da existência prévia de uma área riquíssima que lhe serviu de arcabouço.
Grandes estudiosos e pesquisadores, como Freud, Charcot, Breuer, Jung, Bion, Winnicout, Lacan, Miller, Jones, Erikson, Pontallis, Melaine Klein, Ferenczi, Ana Freud e outros, se dedicaram intensamente a provar suas teorias, que construíram a atual psicologia, com suas distintas abordagens, deixando claro a força que a Psicanálise ainda tem.

Ainda que dita como ultrapassada e, do ponto de vista psicoterapêutico, demorada, sua influência permanece durante as sessões terapêuticas não psicanalíticas, por meio da observação dos sinais apresentados, da análise dos desenhos infantis, da livre associação de ideias e inclusive da análise dos sonhos.
Sim, o inconsciente não saiu de moda!

O inconsciente

Mais do que nunca, os estudos do inconsciente realizados por Freud, e continuado por outros teóricos, trouxe informações de uma área da mente humana que antes nem se sabia da existência.

Essa compreensão trouxe a resposta para diversas ações e reações humanas, patológicas ou não patológicas, que serviram de guia para a cura de muitas doenças físicas sem respostas, que nada mais eram do que emoções recalcadas, considerando a psique como fonte de muitos transtornos físicos e emocionais. Sendo o contrário também verdadeiro. Nossa psique tem a força para a cura e mudança de nossas relações com o mundo.

A Psicologia

A Psicologia vem se fortalecendo ano após ano. Mas se essa premissa é verdadeira, o fato de ter se tornado um comércio também é.

A agitação do mundo moderno, a necessidade do "ter" se sobrepondo "ao ser" , como uma compulsão desmedida, aflorou sentimentos de angústia e frustração, e, como consequência nos deparamos com distúrbios ou transtornos psíquicos em diferentes idades.

Por esse motivo houve o aumento da procura por tratamento psicológico, criando comércio terapêutico citado anteriormente.

É claro que há a necessidade de atendimento terapêutico nessas situações como forma de diminuir o sofrimento do paciente, mas talvez esse paciente não tenha a total compreensão do que é necessário para a superação de suas angústias.

As pessoas entram e saem dos consultórios, assim como fazem com o uso de medicamentos, deixando de usar quando se sentem melhor.

Esclarecendo

Entendam que não é uma crítica à Psicologia, pois essa é uma área encantadora e fascinante, mas vem se tornando superficial, por oferecer brevidade nos atendimentos. A terapia não é paliativa, ela precisa ter o objetivo de um resultado fidedigno, ainda que não haja possibilidade de cura.

Daí a explicação da "demora" da Psicanálise. Não basta realizar intervenção baseada no diagnóstico realizado a partir de um manual, com seus sinais e sintomas pré-estabelecidos, é preciso se aprofundar, ir além do que se pode observar, penetrando o inconsciente como forma de buscar respostas para os distúrbios apresentados. Compreendendo, dessa forma, muitas de suas relações e percepções.

O transtorno não deve guiar a vida da analisando e tão pouco ser a demanda principal no setting analítico, e sim, ser usado pelo analista para compreender onde esse transtorno se encaixa, fazer sua leitura, sua escuta, e colocá-lo em seu lugar, de forma a dar espaço para que o analisando reflita sobre o fato de fazer parte de sua constituição psíquica, e buscar formas de lidar como "ele" sem prejuízo para sua vida.


Conclusão

A Psicanálise não é superficial, ela precisa buscar entender aquilo que ninguém quer ver; o conteúdo inconsciente, cheio de dor e sofrimento.

A pandemia do COVID trouxe um cenário assustador do ponto de vista do aumento dos transtornos mentais, como a depressão, pânico e ansiedade, assim como das taxas de suicídio, reafirmando a necessidade de um olhar mais atento às pessoas e famílias que estão doentes.

Não basta sanar as sensações atuais e lidar com o medo trazido pela pandemia, é necessário entender o que está por traz desse medo, ou melhor, o que veio antes do medo, o que está tão guardado ou camuflado que traz à tona esses transtornos.
Então vemos o retorno do olhar para o inconsciente, assim como para a retomada dos estudos de Freud e outros psicanalistas mais contemporâneos, procurando a compreensão dessa nova pandemia dos transtornos mentais que assola a humanidade.

Ampliar esse olhar não vai prejudicar as atuais abordagens psicológicas, mas pode criar um elo entre Psicologia e Psicanálise de forma a procurar respostas para a atual situação na qual a humanidade se encontra.

Por Cristiane Carminati Maricato

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