Quando falamos sobre a resistência do
analisando, pensamos que por ter procurado auxílio deveria estar aberto às
condições que a análise exige. Mas será que essa resistência é consciente, ou é
inconsciente? Caso seja consciente, como podemos "quebrá-la"? Caso
seja inconsciente, como acessar esses conteúdos que impedem o analisando de se
abrir, de acessar o conteúdo recalcado que está lá guardado, esperando um
momento oportuno ou não para vir à tona.
Podemos dizer que a resistência é tudo
aquilo que atrapalha a continuidade do trabalho terapêutico e que dificulta o
acesso ao inconsciente, prejudicando uma evolução das questões apresentadas.
É importante compreender que o objetivo não
é o analisando aceitar uma interpretação oferecida pelo analista, sem ter
entendimento e aceitação da lógica dessa interpretação na teoria psicanalítica.
A proposta é buscar uma compreensão dos
mecanismos mentais que alimentam essa resistência.
Por trás de tal defesa podemos supor a
existência de determinados desejos inconscientes reprimidos.
É justamente essa tomada de consciência de
tais desejos o objetivo do tratamento psicanalítico; pois de acordo com essa
teoria, eles têm uma íntima relação com a origem dos problemas do paciente.
Por que ocorre a resistência?
São várias as razões que levam o analisando
a apresentar resistência, entre elas pode ser o medo inconsciente de acessar
uma lembrança muito dolorosa e sofrida, ainda que seja essa a proposta da
análise, ou seja, para a compreensão daqueles sintomas apresentados. Pode
também estar relacionado a um conteúdo de cunho sexual que cause vergonha, ou a
um desejo voltado para perversão e até questões mais complexas, como machucar
alguém de fato.
Freud observou que o indivíduo pode ter a
capacidade e a vontade consciente de deixar de renunciar ao seu sintoma e ainda
assim não conseguir abandoná-lo devido a determinados fatores inconscientes.
São justamente esses fatores que Freud denominou de resistências.
Das concepções de resistência Freud nos
apresenta duas particularmente interessantes: a primeira é a "resistência
da doença", a resistência de uma doença ao tratamento, à cura.
Outro conceito Freud traz da palavra
"resistência" em seus escritos iniciais é no sentido de uma
"resistência do organismo'", ou do paciente; assim poderíamos dizer –
uma resistência do organismo à doença.
Partindo da concepção propriamente
psicanalítica da resistência, simplificando e considerando os fenômenos
neurais, a resistência ao tratamento psicanalítico se expressa em fenômenos
como: a censura, ou seja, o impedimento que certos conteúdos acedam à consciência,
o que toma a forma de uma resistência à lembrança de certos eventos; a
resistência à interpretação, seja dos sonhos ou de quaisquer outros fenômenos
em uma análise; e a simples resistência a associar livremente.
Estes três fenômenos têm em comum a resistência a estabelecer associações com
os conteúdos recalcados.
E como superar essa resistência?
Freud explica que é importante dar ao
paciente tempo para conhecer melhor a resistência com a qual acabou de se
familiarizar, para elaborá-la, superá-la seguindo com o trabalho analítico.
Só quando a resistência está em seu auge é
que pode o analista, trabalhando em comum com o paciente, descobrir os impulsos
recalcados que estão alimentando a resistência; e é este tipo de experiência
que convence o paciente da existência e do poder de tais impulsos.
Assim entendemos que a análise não é da
resistência, mas do conteúdo identificado. E essa elaboração é a parte do
analisando, enquanto ao psicanalista cabe a interpretação do revelado pelo
paciente. Com isso, podemos conceber a resistência tanto como obstáculo quanto
como possibilidade para continuidade da análise.
Nesse contexto a resistência pode adquirir o lado negativo ou positivo.
Negativo quando não é bem elaborada e seu conteúdo permanece incógnito criando
afastamento na relação analista e analisando, até o momento que o analisando
entende que não quer mais fazer a análise, pois é algo sofrido e desconfortável.
Positivo quando a superação da resistência traz à tona as respostas que serão
de grande ajuda para a identificação do conteúdo recalcado e possibilitará o
alcance de resultados positivos.
Como forma de ampliar o conhecimento, as
resistências podem ser dividas em:
Provenientes do ego
Resistência de repressão: repressão que
o ego "produz" frente a qualquer percepção que venha causar
sofrimento.
Resistência de
transferência: resistência do paciente contra a emergência de
transferência em relação ao analista.
Resistência de ganho secundário: são
aquelas egossintônicas, onde o paciente "pretende" usar da própria
doença em seu benefício.
Provenientes do id
Resistências contra a
mudança: relacionadas à "compulsão à repetição", onde o paciente
inconscientemente resiste a impulsos instintivos que possam promover mudanças
em sua forma de "viver", ou sobreviver, e se expressar.
Provenientes do superego
Resistências do superego: claramente
relacionadas a sentimento de culpa e necessidade de punição.
Assim concluímos que existem diferentes
tipos de resistência e como colocado no início do texto, algumas são
conscientes, no entanto, de forma gera,l o analisando apresenta uma resistência
inconsciente que deverá ser elaborada para compreensão desse conteúdo e para
compreensão da melhor forma de auxílio a ser prestado.
Referências
Freud, S. (1888/1987). Histeria. In S. Freud, Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 1, pp. 63-83) (2a ed.). Rio
de Janeiro: Imago.
Freud, S. (1889/1987). Resenha de Hipnotismo, de August Forel. In S.
Freud, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund
Freud (Vol. 1, pp. 109-121) (2a ed.). Rio de Janeiro: Imago.
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