A transferência é o deslocamento do sentido atribuído de pessoas do
passado para pessoas do nosso presente e é executada pelo nosso inconsciente.
De acordo com a teoria
freudiana, esse fenômeno é fundamental para o processo de cura.
No início da análise
observa-se a necessidade da criação de vínculo na situação analítica. Não é
raro perceber o entusiasmo do paciente com a pessoa do analista,
supervalorizando suas qualidades.
O paciente/analisando, de
modo geral, demonstra amabilidade e procura reagir de modo favorável às
interpretações da analista, esforçando-se para compreendê-las e se deixando
absorver pela tarefa.
Dessa forma, além da
relação cordial que prevalece durante o trabalho, ocorre a melhora em vários
aspectos da doença. Nesse aspecto podemos dizer que há uma transferência
positiva, e essa forma de transferência pode ser chamada de fenômeno que
facilitará o processo analítico, tornando o paciente mais suscetível à
influência do analista, justamente por existir nessa relação um sentimento de
empatia, respeito e admiração.
Quando o vínculo está
estabelecido criando boa relação entre analista e analisando, as resistências
baixam dando condição e espaço de confiança para que seja realizada a livre
associação.
Porém, essa relação
amistosa pode não permanecer, surgindo dificuldades no tratamento, que se
revelam de diversas maneiras, refletindo na impossibilidade de o paciente
continuar seguindo a regra fundamental. Esse aspecto precisa ser olhado com
muita cautela, pois essa mudança tem algum componente a ser analisado.
Nesse contexto aparece
uma certa negligência em relação às instruções inicialmente dadas no sentido de
dizer tudo o que lhe vem à cabeça e de não permitir que obstáculos críticos
impeçam de fazê-lo. Quando o paciente começa a apresentar comportamento como se
não estivesse no tratamento, consideramos que está ocorrendo uma resistência.
Nestes casos, a situação precisa ser esclarecida, caso contrário o processo
analítico estará em risco.
Se é verdade que a
transferência positiva é de grande importância no tratamento do paciente,
também é verdade que a transferência negativa tem suas contribuições.
É importante compreender
que a transferência pode também ser negativa, e é principalmente com ela que o
analista deve se preocupar, porque este tipo de vinculação reflete, de forma
direta, a resistência ao trabalho analítico.
Esse tipo de
transferência reflete o deslocamento de impulsos agressivos; os sentimentos
hostis costumam ficar ocultos por detrás dos afetuosos, e tendem a se revelar
mais tarde, embora também se possa encontrar a coexistência de ambos, marcando
a ambivalência emocional.
Assim como os sentimentos
afetuosos, os hostis indicam a presença de um vínculo afetivo, ainda que com um
sinal de menos e devem ser considerados transferenciais.
Vale ressaltar que esses
sentimentos deslocados ao analista, segundo Freud, não podem ser creditados à
situação produzida no setting analítico, uma vez que é preciso descobrir o
local de sua origem, pois, provavelmente, eles já existiam anteriormente, vindo
à tona a partir da oportunidade oferecida pelo tratamento.
O paciente repete na
transferência as situações reprimidas no passado como sendo algo atual,
pertencente ao presente. Essa atualização de sentimentos é importante para que
novos comportamentos, sentimentos e pensamentos sejam elaborados.
Nessa situação como o
analista deve agir?
Freud propõe que o
analista não deve ceder às exigências do paciente, decorrentes da
transferência, mas que também não as rejeite, procurando superar a
transferência através da interpretação, mostrando ao paciente que a origem de
seus sentimentos não está na situação atual, nem se aplica à pessoa do
analista, tratando-se, antes, da repetição de algo de seu passado.
Essa repetição pode ser
transformada em lembrança a partir do seguinte trabalho esquematizado: repetir
(movimento inconsciente), recordar e elaborar (movimento consciente).
O padrão de transferência
apresentado pelo paciente ao analista é determinado por sua neurose e
considerado um componente da mesma.
A elaboração desse
processo leva tempo e deve ser cuidadosamente trabalhada pelo analista. Tanto a
transferência positiva quanto a transferência negativa causam impactos
decorrentes das experiências e vivências do paciente com as figuras primordiais
do seu passado.
O psicanalista precisa
ter consciência e saber identificar essa projeção de sentimentos, bem como
perceber o momento em que essa situação pode se transformar em um obstáculo
para o andamento e progresso da análise.
Transferir é uma
capacidade humana por excelência, presente não somente na relação analítica,
mas em inúmeras outras situações de interação social.
A questão é que no
setting analítico ela é de extrema importância, não podendo ser dito que o
trabalho analítico está sendo realizado sem ter se estabelecido o vínculo
transferencial.
A partir do exposto é
possível entender que a análise só começará quando iniciar o processo
transferencial. Ele é crucial e necessário para o sucesso do tratamento. Um
fator indispensável é que o analista esteja em análise pessoal, pois isso vai
assegurar que seus conteúdos afetivos não se misturem e interfiram
negativamente nos processos do analisando.
Assim concluímos a
importância da transferência para a eficiência da análise; em psicanálise,
tudo é importante, toda reação e comportamento do analisando tem importância,
inclusive a transferência negativa.
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