O que é e o que não é Psicanálise?

A Psicanálise não é terapia ou psicoterapia, é um método investigativo. Busca compreender os sentimentos, ações e reações, assim como a explicação e interpretação daquele conteúdo de traz sofrimento. Sendo assim, não trabalha com os sintomas, mas com sua causa. Não entra em contexto de cura, mas do alívio desses sintomas, a partir do conhecimento da causa. Procura tornar consciente o que está inconsciente, para que esse conteúdo seja ressignificado. Psicanálise não é orientação. Não trabalha com hipnose, mas com a livre associação de ideias. Sua proposta está voltada para o autoconhecimento.

quinta-feira, 6 de junho de 2024

O que é sintoma


O entendimento sobre sintoma, tanto de seu surgimento quanto de seu significado, passou por algumas etapas, e, ainda que a psicanálise tenha apresentado inúmeros estudos, para uma melhor explicação, nenhuma das ideias anteriores foram desconsideradas.

Isso se deve ao fato de que cada nova pesquisa (teórica e prática) foi complementando e enriquecendo o arcabouço teórico da psicanálise, ampliando o espaço para melhor atuação analítica.

Freud explicava o sintoma como uma representação, na totalidade ou em parte, da atividade sexual do sujeito, provinda das fontes das pulsões parciais, normais ou perversas. Os sintomas estavam diretamente relacionados às questões sexuais, sendo a realização de um desejo para satisfazer a libido, mas que acabavam por resultar em um conflito psíquico. Nesse processo ocorria o embate entre duas forças (ID e EGO), e o sintoma seria uma forma de se reconciliarem, como se fizessem um acordo.

Como dito anteriormente, essa teoria se confirma até hoje, porém o sintoma pode estar relacionado a outras questões além das sexuais.

Como e por que surge o sintoma?

O sintoma pode surgir por vários motivos, como: desejos reprimidos, inaceitáveis para o ego, e traumas provenientes de situações dolorosas.

O trauma provém de experiências e representações das quais nosso EGO não está pronto para receber; por isso não podem ser integradas a nossa mente e acaba sendo cindidas, ou seja, separadas para outra camada, que é nosso inconsciente.

Essa permanência não se dá forma passiva, pois deixa uma marca, um registro, que tentará vir à tona de tempos em tempos. A esse estímulo para qual a mente não tem resposta é o que Freud chamou de trauma.

Pois bem, como esse trauma não pode ser pensado, pois é algo extremamente doloroso, assim como um desejo que do ponto de vista do sujeito é absurdamente imoral, e por isso causa grande sofrimento, o corpo acaba pagando o preço.

Daí surgem as questões físicas como as dores de cabeça, tonturas, paralisias, cegueira, entre outras, e as questões cognitivas relacionadas a problemas de memória, fala, organização, planejamento, concentração, etc.

Dessa forma, entendemos que o sintoma é o extravasamento de uma ideia traumática.

Desejos incompatíveis aos preceitos morais da pessoa podem lhe causar um desprazer insuportável. Eles fazem pressão para se apresentarem a consciência e o eu, EGO, faz uma contrapressão para mantê-los no inconsciente, reprimindo-os.

Quando essa repressão não é bem sucedida, causa o conflito, chegando a um nível de dor que ameaça a identidade da pessoa.

Assim temos a seguinte equação: conflito, repressão, retorno do reprimido/recalcado, vazando em forma de sintoma.

Aquilo que foi calado, não elaborado, escondido, ainda que involuntariamente, voltará violentamente, de forma disruptiva.

Parece simples, mas não é.

O sintoma é um estranho que habita em nós, não se trata apenas dos efeitos físicos e cognitivos; ele está presente quando fazemos algo que não entendemos e parece sem sentido para nós mesmos, causando estranheza. Repetimos as mesmas ações, as mesmas escolhas e os mesmos erros, sem entender o porquê.

O sintoma está no lugar de um pensamento ou de um desejo, pois não pode existir em pensamento, por se tratar de algo doloroso. Então ele existe enquanto ato, atuação disruptiva.

Vamos lembrar, que a pessoa não sabe o motivo do sintoma, pois o pensamento sobre o que o causou "não existe", foi reprimido.

A proposta na clínica psicanalítica é justamente trazer o que está no inconsciente para o consciente, aliviando os sintomas e possibilitando o autoconhecimento para que essas questões possam ser melhor elaboradas.

Quanto mais consciente sobre nós, menos sofreremos com os sintomas; pois aquilo que não sabemos a nosso respeito nos controla.


Referências

Freud. Sigmund. Inibição, sintoma e medo. Editora L&PM. Rio Grande do Sul.2016. 


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