O que é e o que não é Psicanálise?

A Psicanálise não é terapia ou psicoterapia, é um método investigativo. Busca compreender os sentimentos, ações e reações, assim como a explicação e interpretação daquele conteúdo de traz sofrimento. Sendo assim, não trabalha com os sintomas, mas com sua causa. Não entra em contexto de cura, mas do alívio desses sintomas, a partir do conhecimento da causa. Procura tornar consciente o que está inconsciente, para que esse conteúdo seja ressignificado. Psicanálise não é orientação. Não trabalha com hipnose, mas com a livre associação de ideias. Sua proposta está voltada para o autoconhecimento.

terça-feira, 11 de junho de 2024

Existe técnica específica na Psicanálise?


No livro Fundamentos da clínica psicanalítica, no capítulo "sobre o início do tratamento", Freud faz uma interessante comparação sobre as regras para o exercício do tratamento psicanalítico com o jogo de xadrez, onde apenas as jogadas de abertura e as finais permitem uma representação exaustiva, enquanto as demais jogadas, a partir da abertura, acabam por frustrar tal representação.

Dessa forma, ele busca reunir algumas regras para o início do tratamento de forma a auxiliar o analista praticante, porém apresenta essas regras como "recomendações", não havendo obrigatoriedade em sua utilização.

Isso, devido ao fato de lidarmos com seres humanos, com suas singularidades psíquicas e com a plasticidade dos processos anímicos, inviabilizando uma técnica mecanizada. Acontece que um procedimento considerado justificável pode se tornar sem efeito em determinados casos, e um procedimento considerado errôneo ou inadequado pode, em alguns casos, levar ao objetivo esperado.

A frase "cada caso é um caso" cabe bem nessa explicação.

Com relação às recomendações citarei as mais importantes no contexto da clínica psicanalítica.

A seleção dos pacientes: existem casos que podem ser recusados, por inúmeros motivos; mas o mais importante é ter a compreensão de que o analista não é obrigado a aceitar todos que o procuram. 

Tempo para diagnosticar: é preciso ter tranquilidade para realizar o diagnóstico psicanalítico. O analista pode, a princípio, ter um olhar para um quadro específico, dentro das neuroses, e depois compreender que de fato, trata-se de uma questão neurológica, com a demência.

 Não tratar pessoas das relações do analista: como explicado em um dos artigos do blog, a transferência é fundamental para que a análise ocorra, ou seja, o analisando vê o analista como alguém relacionado a sua vida, como um pai, tio, professor, enfim...essa transferência fica prejudicada quando há, de fato, uma relação entre analista e analisando, causando sérios prejuízos que poderão refletir no contexto do qual fazem parte.

 Tempo e dinheiro: com relação ao tempo é importante considerar que por lidar com questões do inconsciente reprimidas/recalcadas, não há previsão de tempo de duração. E com relação ao dinheiro, Freud fala sobre a Psicanálise ser acessível às camadas mais pobres, e embora o contexto fosse outro, algumas coisas não mudaram. Até porque a proposta apresentada era de cinco sessões semanais e atualmente sabemos o quanto é difícil fazer 2 por semana, sendo comum 1 sessão semanal.

 Uso do divã: o uso do divã tem grande importância no setting analítico (clínica analítica), pois promove o relaxamento do analisando auxiliando na livre associação. Outro detalhe é que o analista não fica de frente ao analisando, permitindo que este fique mais a vontade.

Como iniciar o tratamento?

O analisando deverá falar a respeito do motivo de estar ali, de ter procurado a Psicanálise; poderá iniciar pela história de vida, história da doença, ou alguma lembrança da infância. Estará livre para falar de si próprio.

Associação livre e atenção flutuante.

Entre todas as recomendações, a única questão que Freud fez, foi que a Psicanálise seja fiel aos seus preceitos, ou seja, o trabalho investigativo do inconsciente ocorre a partir da livre associação de ideias, onde o analisando fala tudo o que lhe vem a mente e o analista estará atento a algumas questões como, a troca ou esquecimento de nomes de determinadas pessoas, troca de palavras, demonstração de desafeto em alguns relatos, chistes, conteúdos de seus sonhos, postura e atitude do analisando, entre outros.
Dessa forma o analista deverá manter sua atenção flutuante, ou seja, panorâmica, sem se apegar a detalhes, mas mantendo-se aberto a tudo o que pode ser-lhe apresentado e dar algumas respostas para certas indagações.


Referência

Freud, Sigmund. Fundamentos da clínica psicanalítica. Editora Autentica, 2017.

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Escola produtora de traumas: criando crianças neuróticas

Quando as crianças chegam ao ensino fundamental, surge uma mescla de sentimentos: ânimo por se sentirem quase adultos (pelo menos é o que pe...