O que é e o que não é Psicanálise?

A Psicanálise não é terapia ou psicoterapia, é um método investigativo. Busca compreender os sentimentos, ações e reações, assim como a explicação e interpretação daquele conteúdo de traz sofrimento. Sendo assim, não trabalha com os sintomas, mas com sua causa. Não entra em contexto de cura, mas do alívio desses sintomas, a partir do conhecimento da causa. Procura tornar consciente o que está inconsciente, para que esse conteúdo seja ressignificado. Psicanálise não é orientação. Não trabalha com hipnose, mas com a livre associação de ideias. Sua proposta está voltada para o autoconhecimento.

terça-feira, 11 de junho de 2024

A teoria do trauma



O termo trauma foi utilizado por Freud como forma de descrever impulsos, desejos, experiências dolorosas ou inaceitáveis para o consciente, que ao virem à tona na memória do sujeito podem causar grande sofrimento ou conflito psíquico. Para algumas pessoas a lembrança da experiência traumática é tão insuportável que, como forma de proteção, acaba sendo recalcada no inconsciente.

Como funciona nossa psique?

Nossa mente, ou psique, é como um sistema de memórias e ideias, oriundas de nossas experiências, que criam representações que serão implantadas e integradas ao nosso ego, em nosso consciente, com o objetivo de trazer estabilidade à pessoa. Cada nova informação, nova experiência, deixará uma representação que o ego procurará integrar e encaixar de alguma forma nesse sistema de memórias.

O ego gosta da certeza, daquilo que produz sentido, e evita aquilo que o desequilibra, tentando criar um sentido até onde não há sentido, minimizando os impactos no consciente. No entanto, o ego tem um limite. Experiências e representações das quais não está pronto para receber, e não podem ser integradas a mente, ao eu, acaba sendo cindidas, permanecendo no inconsciente. Essa permanência não se dá forma passiva, pois deixa uma marca, um registro, que tentará vir à tona de tempos em tempos. A esse estímulo para qual a mente não tem resposta é o que Freud chamou de trauma.

De onde vem o trauma?

Esse trauma pode estar relacionado as situações de abuso, abandono, separação, perdas, violência sexual, física ou psicológica, e até situações onde a pessoa foi exposta a um susto/medo intenso. Porém, é importante dizer que a criação ou instalação de um trauma é subjetiva, significando que o que pode ser traumático para um pode não ser para outro.

Tudo depende de como a situação é recebida, dos fatores ou características individuais e da forma como cada pessoa lida com suas experiências. Isso se deve ao fato de cada pessoa ter vivências e experiências em suas vidas, desde a infância, que auxiliarão na construção de seu aparelho psíquico, de forma que cada um terá sua realidade psíquica, ou seja, sua forma de ver o mundo.

Essa realidade psíquica estará diretamente relacionada ao desenvolvimento psicossexual, do ponto de vista de Freud, ou do ponto de vista de Winnicott, a partir de uma mãe e ambiente suficientemente bons ou não bons.

Um ego fortalecido poderá lidar com algumas situações desafiadoras sem que se tornem traumáticas levando a uma condição psicopatológica. Já, um ego frágil ou vulnerável estará submisso às situações do cotidiano, sejam elas quais forem, com grandes desafios e enfrentamentos, ou pequenos eventos, que para alguns passariam despercebidos, como uma simples ofensa; mas, que para outros com uma psique frágil pode tornar-se algo grandioso, com marcas profundas.

Consequências do trauma

Quando uma pessoa vivencia um trauma, ocorre uma sobrecarga no aparelho psíquico, pois o inconsciente impulsiona essas lembranças para o consciente e o pré-consciente cria mecanismos de defesa de forma que o afeto e conteúdo recalcados, muitas vezes destorcidos e deformados, não cheguem à consciência (retorno do recalcado). Esse processo ocorre de forma involuntária.

Toda essa ação demanda muita energia e acaba provocando sintomas como ansiedade, pesadelos, distúrbios do sono, dificuldades de concentração e doenças psicossomáticas, que são manifestações no corpo físico.

Onde há um trauma, o tempo para. Ele fica no inconsciente, no exato momento em que ocorreu e ainda que passem muitos anos, o sofrimento pela perda, ou qualquer outra situação, terá a mesma intensidade. Isso porque o inconsciente é atemporal. É comum o analisando chegar na clínica com sintomas, mas sem reconhecer ou saber que tem um trauma, o que não significa que essa representação esteja totalmente adormecida.

O setting analítico

A análise no setting analítico envolve a investigação da causa dos sintomas apresentados, promovendo a elaboração das memórias traumáticas e dos processos inconscientes que podem estar associados a elas.

A proposta de associação livre, onde o paciente é encorajado a expressar livremente seus pensamentos, sentimentos e sensações, visa o acesso ao conteúdo traumático, aliviando os sintomas e promovendo uma reorganização psíquica. O conteúdo inconsciente deverá ser trazido ao consciente para ser elaborado e ressignificado.

Conclusão

É importante destacar que a abordagem psicanalítica do trauma pode diferir de outras abordagens terapêuticas, por buscar uma compreensão mais profunda dos processos inconscientes e latentes do trauma, eliminando o sofrimento do sujeito, lhe dando condições para uma vida produtiva com melhor e maior qualidade.

Na psicanálise não falamos em cura, mas em autoconhecimento.

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