O que é e o que não é Psicanálise?

A Psicanálise não é terapia ou psicoterapia, é um método investigativo. Busca compreender os sentimentos, ações e reações, assim como a explicação e interpretação daquele conteúdo de traz sofrimento. Sendo assim, não trabalha com os sintomas, mas com sua causa. Não entra em contexto de cura, mas do alívio desses sintomas, a partir do conhecimento da causa. Procura tornar consciente o que está inconsciente, para que esse conteúdo seja ressignificado. Psicanálise não é orientação. Não trabalha com hipnose, mas com a livre associação de ideias. Sua proposta está voltada para o autoconhecimento.

quarta-feira, 12 de junho de 2024

O tabu da sexualidade infantil


Falar em sexualidade infantil sempre foi um grande tabu.

Isso devido ao fato de termos a imagem da criança como alguém ingênuo ou como dito nas religiões de forma geral, alguém inocente, imaculado ou sem pecados.
Se atualmente esse assunto é evitado e causa grande discordância entre diversas áreas de estudo e pesquisa, imaginemos no final do século XIX e início do século XX o escândalo que deve ter sido a teoria do desenvolvimento psicossexual de Freud.
E não poderíamos esperar algo diferente! É muito complicado compreender que esse ser vulnerável e inocente possa ter desejos libidinais e, em dado momento, apresentar desejo por seu próprio pai ou sua mãe.
A criança, de fato, é um ser vulnerável e dependente das ações dos adultos, porém seu desenvolvimento de forma geral é bem complexo.
Acreditamos que tudo ocorre de forma natural; o avanço de cada etapa segue uma sequência linear, como rolar, sentar, engatinhar, ficar em pé com apoio, sem apoio, andar, correr, falar e etc. Como se não houvesse esforço, mas nada é tão simples. Existe uma gama de mudanças biológicas, orgânicas e psíquicas que ocorrem nesse processo.
Atualmente, sabemos que não se trata apenas do desenvolvimento motor ou intelectual, mas uma construção de processos interligamos, que irão compor a personalidade da criança e formarão sua psique.
Ainda assim, existe uma resistência em considerar o desenvolvimento psicossexual ao analisar questões comportamentais especificas de jovens ou adultos, relacionados a transtornos, procurando alguma situação traumática vivenciada, mas de forma aleatória e como único fator de causalidade para o desencadeamento daquela questão psicopatológica.
É aí que vemos a grande contribuição de Freud, ao explicar que problemas em uma das fases do desenvolvimento sexual pode ter graves consequências na idade adulta, com grandes prejuízos para o convívio social e nas questões cotidianas.
Durante cada fase, a criança passa por conflitos entre impulsos biológicos e expectativas sociais. Se ela passar de forma bem-sucedida por esses conflitos internos, acabará tendo domínio de cada estágio de desenvolvimento e, finalmente, obterá uma personalidade totalmente madura.

Para melhor compreensão segue um breve resumo.

Fase Oral (Nascimento até 1 ano)
Nesse primeiro estágio a libido é centrada na boca do bebê, ou seja, seus prazeres são orais ou orientados para a boca, como sucção, mordida e amamentação. A frustração em obter esta satisfação, ou a estimulação oral exagerada pode levar a uma fixação oral mais tarde na vida. As pessoas que podem ter esta "personalidade oral" seriam os fumantes, os roedores de unhas e chupadores de polegar. Estas pessoas se envolvem em tais comportamentos orais, principalmente quando estão sob estresse.

Fase Anal (1 a 3 anos)
Nesta fase a libido se concentra no ânus, e a criança sente grande prazer em defecar.
Freud acreditava que esse tipo de conflito tende a surgir no treinamento do uso do vaso sanitário, no qual os adultos impõem restrições sobre quando e onde a criança pode defecar. A natureza desse primeiro conflito com a autoridade pode determinar o futuro relacionamento da criança com todas as formas de autoridade. Tudo isso está relacionado ao prazer de segurar as fezes quando crianças. A mãe então insiste que a criança se livre dessas fezes de modo adequado, colocando-a no vaso sanitário até que se aliviem.

Fase Fálica (3 a 6 anos)
A sensibilidade na fase fálica se concentra nos órgãos genitais, e a masturbação (em ambos os sexos) se torna uma nova fonte de prazer. A criança toma consciência das diferenças anatômicas sexuais, que desencadeiam o conflito entre atração erótica, ressentimento, rivalidade, ciúme e medo. Surge o complexo de Édipo.
Esse conflito é resolvido através do processo de identificação, no qual a criança adota as características dos pais do mesmo sexo.

Fase de latência (6 anos à puberdade)
Latente significa "oculto". Isso significa que nesta fase não há mais desenvolvimento psicossexual. A libido está adormecida.
Freud pensou que a maioria dos impulsos sexuais é reprimida durante o estágio latente. Assim, a energia sexual é sublimada. Isso quer dizer que grande parte da energia da criança é canalizada para o desenvolvimento de novas habilidades e a aquisição de novos conhecimentos.

Fase genital (puberdade para adulto)
Este é a última fase da teoria do desenvolvimento psicossexual de Freud e começa na puberdade. É um momento de experimentação sexual adolescente, cuja resolução bem-sucedida é estabelecer um relacionamento amoroso com outra pessoa. O instinto sexual é direcionado ao prazer obtido através do outro, ao invés do prazer próprio, como no estágio fálico.

A partir dessas informações podemos compreender a importância da criança passar por um desenvolvimento psicossexual saudável, assim como fica claro o quanto esse desenvolvimento deve ser olhado com maior seriedade, sem preconceito, pois ele faz parte de condição humana.

Apenas quando nos despirmos desse julgamento é que poderemos pensar em ações preventivas para as psicopatologias que vem acometendo cada vez mais jovens, adultos e nos últimos tempos crianças.

Referências
 
Freud, S. Resumo das Obras Completas. Rio de Janeiro. São Paulo. Livraria Atheneu, 1984. Zimerman, D. E. (1999). Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica. Porto Alegre: Artmed.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Desenvolvimento_psicossexual
https://psicoativo.com/2016/04/as-5-fases-do-desenvolvimento-psicossexual-de-freud.html

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