O que é e o que não é Psicanálise?

A Psicanálise não é terapia ou psicoterapia, é um método investigativo. Busca compreender os sentimentos, ações e reações, assim como a explicação e interpretação daquele conteúdo de traz sofrimento. Sendo assim, não trabalha com os sintomas, mas com sua causa. Não entra em contexto de cura, mas do alívio desses sintomas, a partir do conhecimento da causa. Procura tornar consciente o que está inconsciente, para que esse conteúdo seja ressignificado. Psicanálise não é orientação. Não trabalha com hipnose, mas com a livre associação de ideias. Sua proposta está voltada para o autoconhecimento.

quarta-feira, 12 de junho de 2024

A Psicanálise e o transtorno de identidade de gênero



Uma grande discussão na atualidade dentro do contexto da sexualidade diz respeito a identidade de gênero, mais especificamente ao transtorno de identidade de gênero.

A confusão está no fato da não compreensão de estar relacionado a uma escolha/decisão da pessoa, ou a um quadro de saúde mental.

Para melhor compreensão, o transtorno de identidade de gênero é caracterizado por uma forte identificação com o gênero oposto, por um desconforto persistente com o próprio sexo e por um sentimento de inadequação no papel social deste sexo.
Essa é uma condição que causa um grande desconforto e sofrimento psíquico. Além disso, está relacionado a prejuízos no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida de um indivíduo dificultando sua inserção no meio.

Em alguns casos, chega a um ápice de sofrimento que leva o indivíduo ao abuso de álcool, entorpecentes e até a morte (suicídio).

Desde a última metade do século XX, os avanços científicos do ponto de vista clínico, têm favorecido o estudo deste transtorno, com vistas para uma maior aceitação social, assim como a possibilidade de um tratamento integral de forma a intervir e orientar para uma redesignação sexual.

No entanto, essa condição ainda continua sendo pouco conhecida pela maior parte da sociedade, inclusive pelos próprios profissionais da saúde mental, que pelo desconhecimento adotam um tratamento que visa curar a pessoa do "delírio" de ser outra pessoa, com outro sexo.

A questão aqui a ser analisada é se de fato trata-se de um transtorno mental ou quadro psiquiátrico e como a psicanálise pode dar suporte a esses casos.
Em 2018, a Organização Mundial de Saúde anunciou, durante lançamento da CID 11(Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde ), a retirada dos transtornos de identidade de gênero do capítulo de doenças mentais, passando a ser utilizado o termo incongruência de gênero, inserido no capítulo sobre saúde sexual.

Ainda segundo a OMS, existem evidências de que a incongruência de gênero não se trata de um transtorno mental, havendo a necessidade da oferta e garantia de atendimento às demandas específicas de saúde da população nesse perfil. Explicando, assim, o fato de o termo não ter sido retirado totalmente da CID.
Além disso, a Organização destacou ser um passo importante para a redução do estigma e da discriminação em relação à essa população e para a garantia dos direitos de acesso à saúde.

O DSM V, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, atualmente utiliza a classificação de "disforia de gênero" como distúrbio mental, deixando de usar o termo transtorno de identidade de gênero e transgênero por não ser o termo médico adequado.

É importante ressaltar que a mudança de termos ou conceitos não é o grande problema, mas sim o entendimento do sofrimento que a pessoa nessa condição apresenta. Se, de fato, se tratar de uma condição de saúde mental, como podemos auxiliá-la? Mas, e se for apenas uma identificação da pessoa com outro sexo, como uma escolha, onde o sofrimento está relacionado ao fato de não ser aceita pelos demais (família e sociedade) e não necessariamente ao fato de não ser quem gostaria?

A identidade de gênero diz respeito ao gênero com o qual uma pessoa se identifica. No caso das pessoas transgênero, essa identificação não corresponde ao sexo biológico.

Algumas teorias buscam explicar a transgeneridade através de fatores biológicos, psicológicos e socioculturais, ou seja, ainda é um campo desconhecido, podemos dizer assim.

O que nos faz refletir se o suporte que essas pessoas vêm recebendo está de acordo com sua real necessidade.

São inúmeros os tratamentos oferecidos, inclusive medicamentoso. Mas é de tratamento que a pessoa necessita? Será que explicar que biologicamente o indivíduo é homem e querer ser mulher é errado, faz parte de uma abordagem terapêutica?
Acredito que o transtorno de identidade de gênero ainda não tenha uma classificação real, assim como falta muita compreensão para dar um suporte e auxílio efetivo.

Daí pensar que a psicanálise pode ter uma resposta mais aceitável a esse respeito, chegando no cerne da questão; oferecendo a análise como forma de fortalecer o ego e trabalhar com a aceitação dessa condição, promovendo momentos de reflexão para que o indivíduo busque se compreender e se tornar quem ele realmente deseja ser.

Não se trata de delírio, mas sim de identidade, como o próprio nome diz.
A busca da aceitação não está fora, mas sim dentro e essa reflexão não vem através de medicamentos, mas sim de uma ação real enquanto analisando.
Pensando em tudo isso percebemos que a questão principal não passa pelos consultórios de psiquiatria e tão pouco está descrita nos manuais classificatórios, que é como aquela pessoa se sente. Quais são seus sonhos, planos e desejos? O que quer para sua vida? O que gostaria de ser, de fazer e de ter? Enfim, não apenas ver a questão da identidade de gênero, pois sua identidade vai além de seu gênero. A real identidade é a construção de si mesmo enquanto ser humano, olhando para dentro, se gostando, se respeitando, ainda que um dia se vista como homem e outro como mulher.

A real questão ou condição é que a essência permanece a mesma.

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