O que é e o que não é Psicanálise?

A Psicanálise não é terapia ou psicoterapia, é um método investigativo. Busca compreender os sentimentos, ações e reações, assim como a explicação e interpretação daquele conteúdo de traz sofrimento. Sendo assim, não trabalha com os sintomas, mas com sua causa. Não entra em contexto de cura, mas do alívio desses sintomas, a partir do conhecimento da causa. Procura tornar consciente o que está inconsciente, para que esse conteúdo seja ressignificado. Psicanálise não é orientação. Não trabalha com hipnose, mas com a livre associação de ideias. Sua proposta está voltada para o autoconhecimento.

quarta-feira, 12 de junho de 2024

O princípio do prazer e a criança com deficiência


O princípio de prazer é o propósito dominante dos processos inconscientes (processos primários), isto é, busca proporcionar prazer e evitar o desprazer.

Evitar o desprazer significa afastar-se de qualquer evento que possa despertar desprazer, que causa desconforto ou sofrimento, justamente o que caracteriza o recalque. Por outro lado, o princípio de realidade regula a busca pela satisfação levando em conta as condições impostas pelo mundo externo e, segundo Freud, vem substituir o princípio de prazer como uma proteção e não como uma deposição deste último.

E qual a importância dessa informação para o trabalho na Educação Especial?

Como já falei anteriormente, não pretendemos realizar análise com crianças com deficiência, mas a Psicanálise é um recurso importantíssimo para entender essa criança, seus medos, inseguranças, o motivo de certas reações e atitudes, seus desejos e suas frustrações, direcionando o trabalho pedagógico.

Sabemos que a criança com deficiência intelectual apresenta inúmeros prejuízos. Além das habilidades cognitivas, apresentam comportamento imaturo, problemas no juízo de valor, no planejamento das ações e até nos cuidados corporais.

É importante o entendimento de que se há prejuízo intelectual, também há prejuízo na estruturação de seu aparelho psíquico.

Assim, percebemos que, em alguns casos, permanecem em um estágio inferior ao esperado para sua faixa etária. Não que exista um padrão rígido para o desenvolvimento psíquico, mas em alguns casos percebemos uma estagnação em uma determinada fase (oral, anal, fálica, latência e genital).

Há crianças que devido ao grau de comprometimento, estão totalmente voltadas para o ID, operando no princípio do prazer.

São crianças acostumadas a receber apenas, desde os alimentos até o cuidado de suas necessidades básicas, onde suas vontades são atendidas e ao menor sinal de negativa, do adulto responsável, torna-se agressiva, apresentando tanto a autoagressão como a heteroagressão, pois não sabem lidar com o não e com a frustração.

Normalmente são crianças que apresentam certa ansiedade pela comida, se manipula, como forma de explorar o corpo buscando por prazer, não demonstra iniciativa e espera que tudo seja feito por ela, inclusive colocar comida em sua boca.

Só se importam com o que lhe dá prazer.

Quando a criança também apresenta o diagnóstico de TEA, é comum entendermos o comportamento disruptivo como consequência de algo que a incomoda, como excesso de estímulos sensoriais, justificando sua atitude. Mas de certa forma estamos rotulando essas crianças, pois o comportamento inadequado não é condição desse quadro de deficiência e sim uma possibilidade.

A criança no princípio do prazer faz birra sim, pois quer garantir que seus desejos sejam atendidos! O adulto existe para satisfazê-la.

É importante que o professor tenha esse conhecimento, pois dessa forma poderá promover ações que visam o desenvolvimento de sua autonomia, sempre em parceria com a família, orientando-os e auxiliando a lidar melhor com esse processo. Explicando que um hábito negativo, não pode ser retirado do dia para a noite.

O ideal é substituí-lo por hábitos positivos, incentivando e parabenizando a criança nas boas ações, criando espaço para mudanças psiquicas, onde o prazer adquira um outro significado, direcionando-o para as reações positivas dos familiares.

Dessa forma, aos poucos, a criança sentirá um prazer diferenciado, que está voltado para suas próprias realizações, se aproximando do princípio da realidade, criando espaço para novas aprendizagens, ainda que dentro de um quadro complexo de deficiência.

Referências

Freud, S. - A interpretação dos sonhos [1900] in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980.

Freud, S. - Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental [1911] in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 

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