O que é e o que não é Psicanálise?

A Psicanálise não é terapia ou psicoterapia, é um método investigativo. Busca compreender os sentimentos, ações e reações, assim como a explicação e interpretação daquele conteúdo de traz sofrimento. Sendo assim, não trabalha com os sintomas, mas com sua causa. Não entra em contexto de cura, mas do alívio desses sintomas, a partir do conhecimento da causa. Procura tornar consciente o que está inconsciente, para que esse conteúdo seja ressignificado. Psicanálise não é orientação. Não trabalha com hipnose, mas com a livre associação de ideias. Sua proposta está voltada para o autoconhecimento.

terça-feira, 4 de junho de 2024

Existe psicoterapia boa ou ruim? Como escolher?

                                              "Existo onde não penso". Sigmund Freud


É comum quando comentamos com conhecidos que queremos iniciar a psicoterapia, ouvimos perguntas como: que tipo de terapia você vai fazer?

Ah, eu fiz essa e foi ótima! Ou, foi péssima! Se eu fosse você faria tal!

Enfim, são muitas indicações, porém sem o conhecimento adequado sobre o tema.
Será que existe psicoterapia boa ou ruim, melhor ou pior? Como saber se de fato irá nos ajudar. Qual a melhor psicoterapia indicada para meu (ou seu) caso?
Para entender melhor e buscar as respostas para essas indagações faz-se necessário compreender primeiramente como surgiu a psicoterapia e as mudanças ocorridas durante esse processo.

Diferentemente do que pensamos a psicoterapia não é algo recente e não surgiu com Freud, ela é tão antiga quanto a humanidade, e podemos comprovar esse fato a partir das diferentes modalidades de tratamentos psicoterapêuticos utilizados praticamente em todas as culturas nativas, de todos os povos.
Com o tempo e novos estudos, a psicoterapia foi tomando forma e sendo direcionada ao tratamento das doenças mentais. Por esse motivo acabamos entendendo que seu surgimento foi tardio.

É importante lembrar que etimologicamente, psicoterapia significa "tratamento da alma", daí o fato de ter sido muito utilizada, ainda que com outro olhar, que era cuidar ou curar os males da alma.

Na Grécia antiga encontramos a origem da psicoterapia contemporânea e de seu pensamento racional, assim como da filosofia e da medicina. Com a colaboração de Platão, Aristóteles e Hipócrates.

Hipócrates relacionou as doenças com estados do organismo e postulou a existência de quatro humores corporais associados a um temperamento, a saber: sangue-sanguíneo, fleuma-fleumático, bílis amarelo-colérico e bílis negro-melancólico, dando um passo, ainda que longe, mas em direção as questões mentais.
Os registros históricos apresentam que o termo psicoterapia foi utilizado pela primeira vez pelo médico escocês James Braid (1795-1860) e, curiosamente, também foi ele foi ele que criou o termo Hipnotismo para designar a prática hipnótica. Porém, foi a Psicanálise que mais contribuiu para se estabelecer o conceito de psicoterapia com suas diferentes nuances.

No início, eram oferecidos apenas tratamentos individuais com a mesma proposta para cada paciente; o terapeuta trabalhava apenas com o que era trazido pelo paciente.

Com o passar do tempo foram surgindo diferentes abordagens terapêuticas dentro da Psicologia e as formas de tratamento foram se diversificando, passando para atendimentos a casais, famílias, com propostas mais diretivas. Diversos autores passaram a pesquisar mais cuidadosamente sobre o tema, analisando os resultados obtidos, a profundidade, a eficácia e a duração, considerando o modelo de terapia breve, como uma opção para atendimentos que seguem as mudanças que vem acontecendo em nossa sociedade, com propostas eficazes a curto prazo.

Atualmente, existe um considerável número de abordagens na psicoterapia, apresentarei as principais.

Psicanálise: foi criada por Sigmund Freud, utiliza o método de associações livres de ideias do sujeito, podendo ser feita interpretações pelo psicanalista. Essas investigações dizem respeito ao inconsciente, por meio das palavras, ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios).

Psicologia analítica: surgiu entre sec. XIX e sec. XX com o psiquiatra suíço Carl Jung. É um processo centrado na individuação, onde ocorre o ajustamento dos opostos, englobando o consciente com o inconsciente e mantendo a autonomia relativa. Trata de conceitos como o inconsciente individual e inconsciente coletivo, persona, sombra, arquétipos, dentre outros.

Cognitivo comportamental (tcc): surgiu no início dos anos 60, sendo considerada como a segunda força da psicologia, através do psiquiatra Arron T. Beck, a partir de pesquisas com pacientes deprimidos. Essa abordagem considera que todo comportamento é resultado de condicionamento, e, que o ambiente molda o comportamento reforçando hábitos específicos. É geralmente de curto prazo e focada em lidar com um problema específico.

A psicologia humanista: é uma tendência teórica voltada à filosofia. Rejeita a ideia de que todo ser humano tem uma neurose básica e considera que toda pessoa tem capacidade de crescimento e desenvolvimento normais. O papel do terapeuta é o de criar um ambiente acolhedor e empático em que o ser humano possa se desenvolver na direção em que ele escolher e ser realmente quem é. É considerada a 3ª força da Psicologia.

Fenomenologia existencial: surgiu em meados do sec. XIX com E. Husserl, M. Heidegger, J. Paul Sartre e outros. Parte da premissa de que o homem se constitui como ser-no-mundo. O homem é sempre, desde o início, a relação com o mundo. O objetivo da fenomenologia é conhecer os fenômenos tal como eles se apresentam na consciência humana. Desta forma, a proposta é a de suspender as generalizações científicas ou filosóficas; o início da investigação deve ser o próprio fenômeno.

Gestalt terapia: criada pelo médico Fritz Perls, nos anos 50. Tem seu berço na Europa, e é uma tendência teórica mais ligada à filosofia. Essa abordagem ensina aos pacientes o método fenomenológico de awareness (sensação, percepção) no qual perceber, sentir e atuar são preferíveis a interpretar e focar-se em modificar atitudes preexistentes.

Abordagem centrada na pessoa: criada pelo psicólogo norte-americano Carl Rogers, a partir da década de 1940, defende a questão de que o núcleo básico da personalidade humana era tendente à saúde, ao bem-estar, o que ele denominou de Tendência Atualizante. Para essa teoria as condições de mudança de personalidade são vistas de forma ampla e vão além da relação terapeuta-paciente, aplicando-se também as relações familiares, grupos de encontro e qualquer situação onde o objetivo seja o desenvolvimento das potencialidades.

Psicologia transpessoal: surgiu em 1967 com Abraham Maslow como a 4ª força da Psicologia. Abarca conteúdos de muitas escolas psicológicas: C. Jung, A. Maslow, V. Frankl, Ken Wilber e Stanislav Gof. Lança mão de vários recursos como a hipnose, meditação, relaxamento dentre outros. Tem construído um diálogo com a Física Quântica.

De fato, essas são as abordagens mais conhecidas, porém existem outras que podem ser escolhidas de acordo com a necessidade da pessoa.
Bom, chegamos então a conclusão sobre as diferentes abordagens psicoterápicas e se podemos considerá-las boas ou não.

A questão é que todas abordagens tem o mesmo objetivo: diminuir o sofrimento psíquico da pessoa. O que significa que todas são boas.

O que define a eficiência da psicoterapia é se a pessoa se sente à vontade com determinada abordagem, se está de acordo com sua necessidade atual e com sua rotina diária ou até condição financeira. Sim, todos esses pontos devem ser considerados.

Muitas vezes iniciamos terapia pela abordagem TCC e dá grandes resultados, mas em algum momento percebemos que é preciso repensar outras questões e aprofundar um pouco mais no inconsciente, escolhendo a psicanálise. E por que não? Somos seres inconstantes e tudo está relacionado com o momento em que passamos em nossas vidas e com as condições que temos naquele dado momento. Por isso, é importante escolher a terapia que nos sentimos mais confortável e até buscar informação antes de iniciar, mas entender que o objetivo só será atingido com nossa dedicação, indiferentemente da abordagem usada.

Referências

RIBEIRO, Jorge Ponciano. Psicoterapia: teorias e técnicas psicoterápicas. Summus Editorial, 2013. SP.

JUNG. Carl. O essencial da Psicologia. Psicologia aplicada no cotidiano. Editora HB, 2018. SP.



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