O que é e o que não é Psicanálise?

A Psicanálise não é terapia ou psicoterapia, é um método investigativo. Busca compreender os sentimentos, ações e reações, assim como a explicação e interpretação daquele conteúdo de traz sofrimento. Sendo assim, não trabalha com os sintomas, mas com sua causa. Não entra em contexto de cura, mas do alívio desses sintomas, a partir do conhecimento da causa. Procura tornar consciente o que está inconsciente, para que esse conteúdo seja ressignificado. Psicanálise não é orientação. Não trabalha com hipnose, mas com a livre associação de ideias. Sua proposta está voltada para o autoconhecimento.

terça-feira, 11 de junho de 2024

Consciente X Inconsciente

Em nossa cultura é comum aprendermos desde cedo a racionalizar, sem de fato ter a noção desse mecanismo de defesa, mas pensando que ter uma explicação lógica para todas as questões humanas ou situações resolverá todos os nossos problemas.

A reflexão trará todas as respostas, essa é a premissa.

Se estamos ansiosos procuramos uma resposta racional e objetiva, "provavelmente é porque terei uma prova ou precisarei falar em público, depois isso passará".

Se estamos tristes, "é porque terminamos um relacionamento" e assim vai...
Na verdade esse racionalizar nada mais é do que uma desculpa para os sentimentos que enfrentamos cotidianamente, desculpas conscientes que criamos como forma de resolução para os problemas que nos afligem.
A questão é que, essa ansiedade começa a se repetir em outras situações, assim como essa tristeza, tendo como consequência reações orgânicas ou físicas, que podem perdurar por longos períodos e vão se agravando até o momento que não temos mais o controle, e explicar esses episódios de forma lógica não nos dará as respostas corretas, nem trará a cura desses sintomas. E pronto! Transtorno de ansiedade e depressão instalados com sucesso!

Essa é a cultura do consciente! Explicações simplistas para questões complexas, sem ter a real ideia dessa complexidade.

O mundo contemporâneo nos habilita para esse tipo de comportamento, ou seja, assim como a tecnologia, procuramos resolver tudo com grande velocidade e de forma robotizada, repetindo para nós mesmos que "tudo está bem".
Os compromissos e tarefas diárias são intermináveis, precisamos dar conta de tudo e findar o dia nos sentindo como super homens e super mulheres; a sensação de dever cumprido vale todo o cansaço e esgotamento mental. Será?
Até quando nos sujeitaremos a intermináveis tarefas e compromissos? Acreditando em uma energia inabalável?

A cada dia nos assemelhamos mais aos computadores, do ponto de vista da quantidade de processamento de tarefas, mas só compreendemos nossas limitações quando apresentamos "defeito", e aí pode ser tarde.
Começamos a nos perguntar o que está errado, mas "pode ser stress apenas". Tirar férias ou procurar um robby pode resolver.

Até pode ajudar, mas não resolverá o problema, apenas deixará a real causa mais escondida. Aí que entra o inconsciente!

Desconsiderado por muitos, acaba nos pregando peças, pois aquilo que está guardado ou "recalcado" pode vir à tona a qualquer momento.

Como disse anteriormente, vivemos em uma cultura do consciente, com suas explicações lógicas e simplistas e não aprendemos que nossa constituição psíquica possuí um inconsciente de grande importância, que nos protege de determinados sofrimentos, mas que se mantém ativo, nos avisando para ir com calma.
Nos sentimos compelidos a buscar ajuda, porque determinados sintomas fogem a regra do que é normal, porém ainda mantemos hábitos anteriores e, queremos a resolução para ontem, de forma rápida como tudo em nossa vida. Um medicamento que resolva todos os problemas ou uma terapia com cura mágica.
Não há como isso acontecer. Os sintomas foram se instalando aos poucos, devido as questões ocorridas lá na infância e ano após ano reforçados pela vida autômata que vivemos.

É preciso considerar o inconsciente como peça fundamental de nossa psique, entender que toda nossa vida tem um registro e impressões que ficam retidas no inconsciente e no consciente.

Viver não é fácil, mas pode se tornar melhor e prazeroso no momento em que entendemos que não precisamos ter tudo e dar conta de tudo, e que podemos errar, quantas vezes for necessário, até aprendermos.

A questão é que não existe uma rixa entre consciente e inconsciente, mas uma condição responsável por nos manter em equilíbrio.
Segundo Freud, o consciente é responsável por tudo o que podemos chamar de visível ou acessível e que temos acesso pela realidade.
Já o inconsciente é uma parte insondável, guardada nas profundezas de nossa mente, e não está acessível a nossa compreensão.

A proposta aqui não é me estender no pré-consciente, mas para efeito de dúvidas, este armazena informações que podem ser buscadas ou retomadas a qualquer momento.

Entender que somos um complexo psíquico relacionado com consciente, pré-consciente e inconsciente, e que precisamos considerar o inconsciente como parte importante de nossa psique, racionalizando menos e nos permitindo sentir mais, tendo um olhar para possíveis sintomas que podem surgir aos poucos, buscando compreender as questões que parecem perdidas ou inacessíveis no inconsciente, antes que venham à tona de forma desorganizada, causando grandes prejuízos psíquicos, fará grande diferença em nossas vidas.
Quando o inconsciente dá sinais, é preciso ouvir. E acreditem, ele dá pequenos sinais de que aquele conteúdo recalcado (reprimido) está se tornando mais palpável.
É preciso usar a consciência para compreender o que está vindo do inconsciente.
Enfim, é preciso sair do automatismo e dar mais espaço e significado aos nossos sentimentos.
O consciente e o inconsciente são maleáveis, não são estáticos, não existe uma barreira impermeável entre essas estruturas e em algum momento o conteúdo do inconsciente pode chegar à superfície em forma de sintomas e é importante que o consciente faça essa leitura.

Referências


Freud, S. (1980). Artigos sobre a metapsicologia. O inconsciente. In S. Freud, Obras completas (Vol. 14). Rio de Janeiro: Imago.

Freud, S. (1980). Artigos sobre a metapsicologia. Repressão. In S. Freud, Obras completas (Vol. 14). Rio de Janeiro: Imago.

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