O que é e o que não é Psicanálise?

A Psicanálise não é terapia ou psicoterapia, é um método investigativo. Busca compreender os sentimentos, ações e reações, assim como a explicação e interpretação daquele conteúdo de traz sofrimento. Sendo assim, não trabalha com os sintomas, mas com sua causa. Não entra em contexto de cura, mas do alívio desses sintomas, a partir do conhecimento da causa. Procura tornar consciente o que está inconsciente, para que esse conteúdo seja ressignificado. Psicanálise não é orientação. Não trabalha com hipnose, mas com a livre associação de ideias. Sua proposta está voltada para o autoconhecimento.

domingo, 2 de junho de 2024

Sonhos: Neurociência X Psicanálise

 


Você já perguntou porque e para que sonhamos?

O sonho, tema tão abordado na psicanálise por Freud, é algo ainda desconhecido, embora existam explicações de diferentes áreas (médicas e não médicas) a questão é que não sabemos de fato porque sonhamos.
A confusão fica maior quando falamos em sonhos premonitórios. Aí sim, está armada a discussão!
Ainda que haja inúmeras explicações, nos vemos procurando analisar nossos sonhos, buscando descobrir seus significados como forma de conseguir respostas aos nossos problemas, como um recado explícito ou implícito que nos ajudará e trará respostas mágicas.
Dessa forma, a proposta da presente dissertação é buscar a compreensão dos sonhos e sua importância, considerando o ponto de vista da neurociência e da psicanálise, sem deixar de lado a importância da parceria dessas duas áreas como forma de melhorar nossa atuação clínica.
A neurociência considera o sonho como um dos fenômenos mais misteriosos até os dias de hoje.
A grande discussão diz respeito ao que de fato são os sonhos e como ocorre sua construção ou criação.
A dúvida é se se trata de um fenômeno do sistema nervoso, que seria um acontecimento neural com uma função própria como treinar o cérebro para situações de risco, ou se os sonhos seriam um epifenômeno, o que significa um acontecimento indireto induzido pelo processo de reorganização das informações que ocorre durante as fases do sono.
De acordo com os estudos da neurociência podemos dividir o sono em duas fases, o sono não-REM e o sono REM.
Essa denominação tem origem na língua inglesa, sendo definida pela presença ou ausência de movimentos rápidos dos olhos durante o sono.
O sono não-REM é dividido em três estágios, indo do superficial ao mais profundo, o que indica que o tempo para despertar apresenta aumento contínuo com a evolução dos estágios durante a noite.
O sono REM, é considerado um estágio mais profundo de adormecimento, caracterizado por movimentos oculares rápidos e pela paralisia temporária dos músculos do corpo, possibilitando um relaxamento completo.
O sonho pode ocorrer em qualquer fase do sono, porém ele está mais associado à fase REM, onde os sonhos tendem a ser mais vívidos – o nível de ativação cortical se assemelha mais ao de quando estamos despertos.
O conteúdo onírico (dos sonhos) normalmente vem relacionado as experiências vividas durante a consciência, no dia a dia, e pode envolver mais sensações negativas do que positivas, reforçando o que foi dito anteriormente sobre a teoria do sonho como treino para eventos ansiogênicos da vida (situações de risco).
Esse processo foi descoberto por pesquisadores que realizaram experimentos datando a ativação cerebral, das pessoas envolvidas na pesquisa, durante o estado de vigília e de sono. A descoberta a partir desse experimento foi que boa parte dessa ativação se repetia durante o sono, atribuído, dessa forma, à importância do sono REM para a consolidação da memória e o processamento emocional.
Além disso, foi verificado que o sonho é um estado único no qual o indivíduo é capaz de manter um certo nível de consciência ainda que com o mínimo de estimulação externa, sendo que essa experiência é criada e mantida de maneira interna.
Dessa forma, esses estudos neurocientíficos possibilitaram aos pesquisadores a compreensão das áreas que estão relacionadas à consciência, uma vez que elimina o processamento de estímulos externos ao sujeito.
Dentro da visão psicanalista e a partir da teoria freudiana sobre os sonhos, para Freud
Para Freud, o sonho diz respeito a realização de um desejo reprimido que conscientemente não há possibilidade de realizá-lo.
Apresenta um conteúdo manifesto, que é a experiência consciente durante o sono, e um conteúdo latente, considerado inconsciente.
O conteúdo latente é composto por três elementos, que seriam: as impressões sensoriais noturnas, como a sensação de sede durante o sono; os restos diurnos ou registros dos acontecimentos da véspera; as pulsões do id que estão relacionadas às fantasias de natureza sexual ou fantasias agressivas.
Normalmente esses elementos agem acordando a pessoa e interrompendo o sonho, no entanto, outros mecanismos podem vir à tona.
Durante o sono ocorre uma completa cessação da atividade motora voluntária, a repressão está enfraquecida, aumentando a possibilidade das pulsões terem acesso à consciência. Sendo assim é permitido, como um acordo entre o Id e o EGO, a gratificação parcial das pulsões, diminuindo a força delas e possibilitando que o indivíduo continue a dormir.
Essa gratificação ocorre por meio de uma fantasia visual, que seria o conteúdo manifesto do sonho, que é o resultado de um processo regressivo.
Ainda de acordo com Freud, o conteúdo manifesto dos sonhos é aparentemente incompreensível porque consiste numa versão distorcida do conteúdo latente. A distorção ocorre porque no sono há uma profunda regressão do funcionamento do ego, que faz com que prevaleça o processo primário do pensamento, caracterizado pelo predomínio das imagens visuais e mecanismos de condensação (fusão de duas ou mais representações) e de deslocamento (substituição de uma representação por outra).
A teoria freudiana sobre os sonhos tem sido bastante contestada, dentro e fora da psicanálise. Questiona-se se as imagens que percebemos durante o sono representariam mesmo um disfarce ou distorção.
Alguns estudos empíricos encontraram uma correlação significativa entre a atividade mental durante a vigília e o conteúdo manifesto dos sonhos. Outros demonstraram que estímulos apresentados anteriormente ao sono, como filmes, fotografias ou jogos de palavras podem reaparecer claramente nos sonhos.
No entanto, ainda não há uma comprovação ou compreensão do motivo de sonharmos e seus significados.
Considerando as explicações da Neurociências ou da Psicanálise, uma coisa é certa! Os sonhos têm importância em nossa vida, seja como forma de desabafar, eliminar sensações de angustia, encontrar pessoas queridas, acreditar que tudo é possível...enfim, sonhar nos dá esperanças de acontecimentos melhores.

Referências
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. 20. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
FREUD, Sigmund. A Interpretação dos Sonhos. Vol. IV Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

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