O que é e o que não é Psicanálise?

A Psicanálise não é terapia ou psicoterapia, é um método investigativo. Busca compreender os sentimentos, ações e reações, assim como a explicação e interpretação daquele conteúdo de traz sofrimento. Sendo assim, não trabalha com os sintomas, mas com sua causa. Não entra em contexto de cura, mas do alívio desses sintomas, a partir do conhecimento da causa. Procura tornar consciente o que está inconsciente, para que esse conteúdo seja ressignificado. Psicanálise não é orientação. Não trabalha com hipnose, mas com a livre associação de ideias. Sua proposta está voltada para o autoconhecimento.

terça-feira, 4 de junho de 2024

A história da loucura. De médico e louco...



Você já parou para pensar o que é a loucura? Será que existiu mesmo ou era apenas uma forma de explicar algo que não se tinha conhecimento?

Sabemos que, o que foi há muito tempo chamado de loucura, hoje tem a designação de transtorno mental, doença mental, ou, mais especificamente relacionado a psicose, se pensarmos no diagnóstico do ponto de vista da psicanálise.
No entanto até chegar a esse patamar, digamos assim, a loucura passou por várias conceituações, podendo ser entendida de diversas maneiras.
O mais comum é a loucura ser considerada como uma perda de consciência de si, de sua existência e de seu lugar no mundo.

Em segundo lugar, como uma doença ou um estado mental decorrente de algum tipo de alteração do cérebro.

Em terceiro lugar, como a dificuldade emocional relacionada às situações ou acontecimentos em contexto familiar ou contexto social considerados problemáticos.
Estes são os conceitos que atualmente estão inseridos nas designações dos transtornos mentais; porém, o termo loucura também foi utilizado para caracterizar pessoas que apresentavam algum desequilíbrio em relação às normas sociais, inclusive com ideias diferentes sobre o respeito às regras estabelecidas e impostas por instâncias superiores. Somando a isso, também foi utilizado para caracterizar pessoas que, por alguma razão não conhecida, fugiam ou evitavam cumprir com seus compromissos sociais ou familiares, e, por fim, pessoas que diziam ter ampliado a consciência, olhando a vida de maneira mais profunda, com outro significado, o da transcendência.

Assim, percebemos o quanto é difícil descrever ou conceituar a loucura, justamente por todas essas distintas manifestações e inconstância.
Essas diferentes maneiras de entender a loucura, embora pareça confuso, nos dá um panorama muito interessante de seu real significado, uma vez que precisamos ter em mente que a loucura não é uma condição oposta à normalidade ou à racionalidade, mas uma condição que pode ocorrer dentro da própria normalidade e da racionalidade, e por um período de tempo determinado, sendo apenas momentâneo, ou indeterminado, para toda a vida tendo seu agravamento ao passar dos anos.

Dessa forma, entendemos que a noção de loucura depende muito do contexto social no qual se está inserido ou na época.

De acordo com Foucault, cada cultura seleciona uma série de condutas e modos que consideram como normais ou adequados, e coloca todo o restante como anormal ou patológico. Assim, cada sociedade estabelece um padrão do que é aceito e do que deve ser reprimido, corrigido ou ajustado.

A doença mental, portanto, pode ser tão variável quanto são os costumes de um grupo social.

Compreendemos então a necessidade de colocar em questão o entendimento sobre a loucura relacionando-a unicamente à patologia, entendendo como algo a ser tratado ou ajustado dentro dos padrões ou normas.

É preciso ir além desta compreensão, de modo a buscar suas diferentes formas de expressão, tendo um olhar sobre os problemas e limitações do mundo em que vivemos que muitas vezes nos tolhe.

Sendo assim, podemos tanto enxergar a loucura como um ato de coragem ao recusar as normas e regras de conduta instituídas, e como a capacidade entender o mundo de diferentes maneiras, e de, a partir dessas maneiras, se colocar nele, ou como aquele que se torna perigoso para os demais e para si mesmo, necessitando de tratamento para conviver em sociedade de maneira adequada.

Foucault esclarece que somente a partir do século XIX a loucura passou a ser concebida como doença mental, sendo resultante de alterações na fisiologia do cérebro. Suas estruturas e manifestações foram classificadas e descritas por meio de uma nosografia (classificação de doenças por classes, ordens, sistemas, gêneros, espécie) categorizando termos como histeria, transtorno obsessivo compulsivo, mania, depressão, fobia, paranoia entre outros.
Essas categorizações, no entanto, ainda são muito frágeis e questionáveis, pois são limitadas. Alguns pesquisadores explicam que essas categorias deveriam considerar outros "hábitos" patológicos, criando mais opções para o diagnóstico.
Então podemos dizer que, atualmente, a loucura tem classificação e pode ser diagnosticada, porém aí existe um contraponto. E qual é?

É simplesmente a capacidade do ser humano criar novas designações para aquilo que não pode ser explicado.

Sabemos que o DSM V nos traz as classificações dos diversos transtornos mentais, isso é fato. Porém, é como se essas classificações não tivessem o mesmo significado da loucura. E, em vez de compreender que se trata de nomear as diferentes formas de loucura é como se a loucura adquirisse outro viés.
Respondendo aos questionamentos iniciais...sim, a loucura, com seu conceito inicial, puramente "loucura" ainda existe e sempre existiu, não é porque criaram novas classificações com seus sinais e sintomas distintos que deixaremos de nos considerar loucos ou aos demais.

A loucura sempre estará presente em nosso vocabulário, sendo usada nas mais variadas formas e contextos, sem relacionar a qualquer tipo de transtorno mental, mas simplesmente para designar algo diferente daquilo que consideramos dentro do quadro de normalidade.


Referências

FOUCAULT, Michel. História da loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva. 2008.

FOUCAULT, Michel. Loucura, literatura, sociedade. In: Motta, Manoel Barbosa (Org.). Problematização do sujeito: psicologia, psiquiatria e psicanálise. Rio de Janeiro: Forense Universitária. p.232-258. 2006.

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